Eu falei com a moça do escritório enquanto íamos para o ponto de ônibus. Tinha outra advogada junto, que ficou no meio do caminho, então na verdade pudemos falar bem pouco.
Ela falou que 'sentia por ter estragado minha vida'. Chorava porque achava que tinha me 'destruído'. Destruído? Na verdade ela me deu dois dias maravilhosos, e foi o que eu falei a ela. Aí chegou o ônibus dela, e eu fui beijá-la, ela se afastou. Pedi um abraço, ela se fechou como um caracol e disse que 'tinha que ir'.
Senti falta daquele abraço que não demos. Mais do que do beijo. Queria tê-la abraçado de verdade; queria tê-la envolvido nos meus braços, com força, com amor. Aquele abraço não dado foi talvez uma das coisas mais tristes de toda minha vida. Se ela tivesse deixado eu abraçá-la, ela teria sentido tudo o que eu sinto por ela. aquele abraço era tudo pelo que eu tinha ansiado desde que me separei da Sra. D. Mas eu nao pude dá-lo.
Fui até o ponto do meu ônibus chorando por todo o caminho; mal sei como cheguei em casa. Tenho medo da noite, medo de ficar sozinho. Tenho medo do amor.
Não quero ir pra minha cama; estou com medo. Queria não estar tomando tantos remédios, pra poder beber; mas eu não posso. Voltei a ter medo do futuro, agora de um jeito como nunca tive antes... um medo escuro e rastejante, um medo que me sufoca de um jeito que não sei descrever. Queria conseguir esquecê-la; queria não tê-la conhecido. Queria jamais ter provado disso.
Eu já sei como isso funciona. Daqui a uma semana é que vem a dor de verdade. A dor de verdade vai vir cada dia em que ela for embora sem falar comigo, ou que sair com o namorado dela. A dor de verdade vai vir quando eu tentar fazer sexo com a jaque e não conseguir; a dor de verdade vai vir lá na frente, e não vai embora tão cedo.
Queria que minha mãe estivesse aqui, pra poder deitar minha cabeça no colo dela. Queria poder chorar no colo dela até dormir, enquanto ela cuida de mim... mas não posso. Vou ter que dormir no meu quarto escuro, o mesmo quarto onde, ontem, eu acordei durante a noite de tanto desejo por ela.
Ela disse que 'se tivesse me encontrado em outra fase da vida seria diferente'. Bem, não seria. Eu sou um sonhador; as coisas acontecem sempre como devem ser. Se ela 'não estava na fase certa', não era pra ser.
Acho que isso significa que eu devo me contentar com alguém como a jaque - nao alguem que eu ame, mas alguem que me suporte. Não alguem com quem eu consiga conversar, ou alguém com quem eu goste de estar junto; mas meramente alguem que eu consiga arranjar.
Sabe, vou sentir muita falta desta garota. Conversar com ela me fazia muito, muito bem. Tomara que ela seja feliz com o cara que está com ela, ou com quem quer que venha depois; eu a amo o suficiente para desejar que ela seja feliz.
E você, Kai? Você não vai ser feliz?
Eu não sei. A cada dia que passa eu acredito menos nisso. A cada dia que passa eu fico mais velho, mais triste, mais doente. A cada dia que passa eu fico mais ranzinza, mas cético, mais amargo. A cada dia que passa eu acredito menos nas coisas e nas pessoas. "Tudo falha, senhor. As pastagens, as colheitas e o coração dos homens."
Sete anos de busca, em trinta e três de vida. Quase um quinto da minha vida - o último quinto da minha vida - procurando algo, e a cada vez que eu achava que tinha encontrado, uma bofetada. Não sei até onde aguento.
Eu estava pensando na minha doença; primeiro, eu achava que eu me odiava tanto que meu próprio corpo tentava me matar. Mas, agora, cheguei à conclusão de que é o contrário... meu corpo escuta o que eu falo tanto, escuta eu falando tanto que preciso descansar, que resolveu dar um jeito nisso. Meu corpo me ama tanto que resolveu acabar com tudo...
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