Uma amiga minha escreveu:
"Hummmmm - entendi sim. Ela não foi perceptiva, mas ainda creio que ela tenha interesse por vc. Se eu fosse vc manteria o comportamento doce, atencioso e amigo. Me envolveria com a que por hora não tem mta graça mesmo (a moça que a minha ex-socia me apresentou) e comentaria só coisas positivas dela para a do escritório.
O que vc acha. Ela prova do próprio veneno!!!
Bju"
Eu respondi:
Eu já acho que ela foi perceptiva - aliás, acho que a maior qualidade que eu admirava nela era isso. Só tive isso com outra pessoa uma única vez; uma vez eu tinha escrito que era o tipo de conversa que me fazia ser quem eu realmente era, como se eu tivesse um carro veloz e finalmente tivesse saído de uma estrada de terra cheia de carros de boi e finalmente encontrado uma pista de corrida. Então, percepção não faltou.
E vou contrariar totalmente o que você disse. Acho mais provável que eu tenha entendido tudo errado desde o começo, ou que talvez ela tenha alimentado um pouco isso - afinal, eu posso ser muito agradável e atencioso quando eu quero, e isso com certeza faz bem. Mas era só o jogo, e o erro foi meu de não exergar isso.
Não gosto da idéia de fazer ela "provar do próprio veneno", primeiro porque não teve veneno, em nenhuma hora. Na verdade, o que causou tudo foi justamente o contrário, foi a doçura exagerada, foi ela se preocupar tanto comigo, foi ela querer saber tanto de mim, foi ela dividir tanta coisa comigo, foi ela me ouvir tanto, foi ela conversar tanto, foi ela se interessar tanto pelo que eu tinha pra falar... E, assim, não tenho a menor vontade de machucar alguém que me fez bem, mesmo que por pouco tempo...
Não tenho a menor vontade de entrar nesse jogo. Acho que foi uma das pouquíssimas vezes em que algo acabou (acabou sem ter começado, mas acabou) de uma forma tão suave... todas as vezes em que terminei algo foi dolorido, mas de um jeito diferente, como se eu tivesse perdido uma parte de mim e doesse, ou como se alguém tivesse morrido ou algo assim... e aqui foi uma despedida que também doeu, mas é como se fosse uma grande amiga que tivesse ganho uma bolsa pra morar longe e nunca mais a gente fosse se ver - o que é uma dor diferente. Quando penso nisso a sensação de que tenho - sensação que não sei explicar, mas que é bem forte - é a do mar deixando a praia, quando as ondas se recolhem... em silêncio, suavemente, por mais que seja uma saída forte e que não pode ser evitada...
Nem sei se ela sentiu alguma coisa nisso tudo; mas é como eu senti e como eu sinto, e é o que importa.
Vou sentir falta de conversar com ela. E claro que não vou mais poder ser doce, gentil e atencioso, porque não seria a mesma coisa. Ou eu viro a página, ou não consigo viver direito, e não quero que isso aconteça. Acho que o que sobra de um sentimento, ou um relacionamento, é o que a gente faz dele. E aqui sobrou uma pedrinha brilhante, que por menor que seja, vale muito mais que as rochas de carvão das minhas outras tentativas.
Tem um livro sobre depressão chamado "o demonio do meio dia". Ele tem esse nome acho que é por causa de um trecho da bíblia, ou de santo agostinho, onde perguntam como diferenciar um anjo de um demonio, porque ambos podiam te encontrar no deserto ao meio-dia. A resposta é que você sabe só quando eles vão embora, pela sensação que eles deixam quando se vão.... o demonio leva sua essencia, sua alegria, sua energia. E o anjo, quando vai embora, deixa tudo isso...
Nesse ponto a Neliane foi um anjo, porque ela foi embora e não me levou nada, ao contrário de muita gente. Claro que tem um gosto amargo aqui, mas é mais o gosto amargo que fica depois que a gente come muito chocolate, o amargo do doce muito doce...
Bem, você já conhece meu jeito melodramático de ser, acho que sou o único que consegue escrever tanta coisa de uma bobagem como essa. Mas é como estou me sentindo hoje, agora, aqui, e aprendi a falar disso (mesmo quando falo, ou escrevo, sozinho), porque é o meu jeito de viver isso."
Esse é o Kai de verdade.
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