O sol de maio me deixa doente, rouba minhas forças como se eu fosse o sol e ele fosse uma planta insaciável, drenando minha energia, um girassol de dor e de tristeza.
Mas eu tinha esquecido o sol de agosto, que agora brilha. Ao contrário do sol de maio, que sempre vem, às vezes em abril, às vezes em junho, o sol de agosto parece com um cometa, que entra na órbita da minha vida de tempos em tempos.
E quando chega, não traz em seus raios a dor difusa do sol de maio; seu calor não é o calor frio do sol de maio, sua tristeza não é ancestral como a do sol de maio.
A tristeza do sol de agosto é recente e remonta à minha viagem para a cidade da Carol. O sol de agosto que hoje bate na minha janela é o mesmo que iluminava os montes de Minas, onde fica sua casa. O mesmo sol sob o qual eu admirava seu rosto, o mesmo calor que havia depois que fizemos amor pela primeira vez, o mesmo ar que nos envolvia quando cheguei naquela cidade após dois dias de viagem.
O sol de agosto é mais insidioso e cruel que o sol de maio, porque o sol de maio é ancestral e me faz chorar por algo que talvez jamais eu tenha sido, ao passo que o sol de agosto me faz relembrar o que tive e perdi. E, se minha vida é um inventário de perdas, o sol de agosto é a lanterna pela qual enxergo as ruínas do que outrora foi a cidade da minha felicidade.
Que venham as chuvas, os trovões. Que os ventos arranquem as raízes da minha dor e as carreguem para o mar, onde eu possa me afogar. Que o céu desabe em gotas grossas, gotas que eu posso fantasiar serem as minhas lágrimas, pois lágrimas já nem consigo mais verter...
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário