Estou terminando de ler um livro chamado "Quando éramos adultos", da mesma autora que escreveu "turista acidental" (que depois virou um filme mais ou menos famoso).
A história é sobre uma senhora nos seus cinquenta-sessenta anos, já viúva, que um dia percebe que a vida que levou parece a vida de outra pessoa; que ela teve que se adaptar ao que esperavam dela, em lugar de ser quem realmente era. Quando se dá conta disso, tenta reencontrar seu antigo namorado de colégio, com quem tinha planejado se casar - e o qual largou para casar com outro cara, que recém havia descoberto.
Algo como tentar voltar atrás e viver o "e se". Só que não dá pra fazer isso.
Eu tenho que lutar muito para não cair no " e se", especialmente nesta época. Porque tem coisas que sei que são meras fantasias, o tipo de lembranças boas que temos do passado e nas quais esquecemos propositalmente as partes ruins; mas, por outro lado, tem coisas que sei que seriam muito melhores.
Por exemplo, sei que a Sra. D. jamais me deixaria sozinho nesta hora de doença e do lance do meu irmão. Sei que ela teria ido comigo a todas as consultas e exames, e certamente teria ido comigo visitá-lo. A mãe dela teria me inscrito em todos os grupos de orações que conhece, e o pai dela me contaria histórias de conhecidos que tiveram coisa pior e superaram, alem de tentar me fazer aprender alguma coisa com tudo isso.
Hoje, o que eu tenho? Apenas minha irmã perguntou o que o médico disse, e eu menti para ela. É tudo.
Essa mulher da história, num dado momento, começa a viver uma vida paralela - onde a fantasia é mais real que o real. Eu vivo isso, todos os dias. Tomo cuidado para não envolver ninguém do meu passado, porque isso só doeria mais; mas, crio todo meu mundo com pessoas que não existem, para me ajudar a passar. Antes de dormir eu falo com o amor da minha vida, embora não saiba sequer o seu rosto; voltando para casa, converso e rio com os amigos que só existem dentro da minha cabeça, e assim por diante. Mesmo sexo, faço cada dia com uma pessoa diferente, e dormimos abraçados - ou é o que imagino.
Claro que uma hora ela percebe que isso não dá certo, que o resultado é só deixar o presente mais amargo. Só que tem horas, como agora, que não pode ser de outro jeito.
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