domingo, 26 de abril de 2009

Fui visitar meu irmão de novo. Foi horrível, discutimos, ele disse que só fica mais uma semana e depois vai sair de qualquer jeito.

Estou cansado.

sábado, 25 de abril de 2009

Acabei de discutir com as três irmãs - porque elas estavam discutindo antes. Uma berrava para a outra: "eu odeio essa mulherzinha! Eu te odeio" e coisa do tipo.

Berrei que morava com três loucas, que não via a hora de morar sozinho, bati porta, me tranquei no quarto e liguei o som no último volume - igualzinho qualquer adolescente.

Só que eu tô cansado, e não suporto mais esse tipo de coisa. Minha família se desfaz diante dos meus olhos, bem na época em que preciso de algum lugar pra me segurar.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Comecei hoje a tomar o novo remédio, o imunosupressor. Até que saia pela saúde pública, o que deve durar um mês ou dois, preciso pagar do meu bolso. O lugar mais barato é na farmácia subsidiada pelo Estado, que custa 86,00 por mês.

Ainda continuo tomando o corticóide, porque esse remédio novo demora para fazer efeito. A partir de agora preciso tomar mais cuidado com a saúde, porque estou mais sujeito a infecções; pra piorar, tem remédios comuns (como anti-inflamatórios) que não posso tomar, por causa do anti-coagulante.

Bem, segue o baile.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Este é o texto que uso no meu perfil do orkut. Tenho muito orgulho dele; é uma das coisas mais lindas que já escrevi. Infelizmente, continua atual, depois de todo este tempo.

Ainda lembro do dia em que ele surgiu. Foi, claro, por causa de uma garota, em quem investi e, claro, não deu em nada.

"Abri meus portões; lancei meus soldados e meus recursos pelo deserto de minha vida. Libertei um rio de aço e fogo, toda minha força na ponta das lanças que refletiam os raios do Sol.
Mas os soldados se bateram nos portões da Cidadela como ondas contra os rochedos, as flechas eram como agulhas de pinheiro contra escudos de carvalho. Meus cavalos se afundaram em solo pantanoso, e seus relinchos de desespero violaram a noite junto com os gritos dos cavaleiros. Meus falcoeiros esperaram em vão o retorno de seus pássaros e meus cães de guerra caíram feridos de morte. O exército que preparei, as armas que forjei, as armaduras que montei, os planos que fiz, todos sucumbiram diante daquelas muralhas como flores sob a neve.
Não há caça no campo.
Recolherei meus exércitos, resgatarei uns poucos cavalos. Abandonarei os falcões e os cães, esquecerei os que caíram reféns.
Não há caça no campo.
Dispensarei a soldadesca. Que voltem a empunhar arados e forcados! Que se refugiem em suas casas, que se escondam de medo diante dos inimigos! Que os cavalos sejam atrelados com os bois mais lentos, que os cães sirvam apenas para pastorear!
Probirei até o ataque à raposa e ao furão, a busca ao porco selvagem e ao gamo. Probirei a defesa dos galinheiros e dos pastos. Mesmo os corvos serão soberanos, sem espantalhos que os atrapalhem.
Que se anuncie que esta é uma terra de covardes e de tolos, uma terra sem guerreiros e sem exércitos.
Pois não há caça no campo."
Ainda pensando na história de ir comprar sorvete à meia-noite, vi o quanto sou inadequado. Veja, não moro sozinho, meu quarto é um cubículo de 3m x 4m que ainda tem beliche, meu Deus! (e só um colchão), com livros e revistas empilhados em um canto, pilhas de jogos de videogame num lado, um monte de revistas de mulher nua embaixo do criado mudo, miniaturas pintadas pela metade na estante; não tenho carro, não sei dançar, não conheço bandas cool ou nada do tipo.

Ah claro que é fácil dizer que não tenho um relacionamento sério porque ainda moro com minhas irmãs e isso prejudica minha vida social ou mesmo sexual. Só que no fundo não é isso, e eu sei. Só que sei também que eu não teria coragem de trazer essa advogada para conhecer o meu quarto, por exemplo.

Então, é mais fácil ficar sozinho, lamentando-me e vivendo num mundo de faz de conta, onde o amor da minha vida não me acha ridículo só porque separo minhas chaves por cores.
Ah, essa advogada que estava com o estagiário, na festa de fim de ano do escritório cheguei a pensar levemente que poderia ter algo com ela - os dois altos de cerveja, festa de fim de ano, essas coisas.

Claro que, para minha sorte, não fui além e assim evitei a humilhação. Tempos depois, vi de passagem o seu orkut e tinha uma comunidade da qual tento me lembrar sempre: "Eu só sou legal, não estou te dando mole".
Estou terminando de ler um livro chamado "Quando éramos adultos", da mesma autora que escreveu "turista acidental" (que depois virou um filme mais ou menos famoso).

A história é sobre uma senhora nos seus cinquenta-sessenta anos, já viúva, que um dia percebe que a vida que levou parece a vida de outra pessoa; que ela teve que se adaptar ao que esperavam dela, em lugar de ser quem realmente era. Quando se dá conta disso, tenta reencontrar seu antigo namorado de colégio, com quem tinha planejado se casar - e o qual largou para casar com outro cara, que recém havia descoberto.

Algo como tentar voltar atrás e viver o "e se". Só que não dá pra fazer isso.

Eu tenho que lutar muito para não cair no " e se", especialmente nesta época. Porque tem coisas que sei que são meras fantasias, o tipo de lembranças boas que temos do passado e nas quais esquecemos propositalmente as partes ruins; mas, por outro lado, tem coisas que sei que seriam muito melhores.

Por exemplo, sei que a Sra. D. jamais me deixaria sozinho nesta hora de doença e do lance do meu irmão. Sei que ela teria ido comigo a todas as consultas e exames, e certamente teria ido comigo visitá-lo. A mãe dela teria me inscrito em todos os grupos de orações que conhece, e o pai dela me contaria histórias de conhecidos que tiveram coisa pior e superaram, alem de tentar me fazer aprender alguma coisa com tudo isso.

Hoje, o que eu tenho? Apenas minha irmã perguntou o que o médico disse, e eu menti para ela. É tudo.

Essa mulher da história, num dado momento, começa a viver uma vida paralela - onde a fantasia é mais real que o real. Eu vivo isso, todos os dias. Tomo cuidado para não envolver ninguém do meu passado, porque isso só doeria mais; mas, crio todo meu mundo com pessoas que não existem, para me ajudar a passar. Antes de dormir eu falo com o amor da minha vida, embora não saiba sequer o seu rosto; voltando para casa, converso e rio com os amigos que só existem dentro da minha cabeça, e assim por diante. Mesmo sexo, faço cada dia com uma pessoa diferente, e dormimos abraçados - ou é o que imagino.

Claro que uma hora ela percebe que isso não dá certo, que o resultado é só deixar o presente mais amargo. Só que tem horas, como agora, que não pode ser de outro jeito.
Esse é um mail que mandei para lux e resume bem meus últimos dias:

"Fui ao neuro hoje, e ele diagnosticou que não é esclerose, mas sindrome de antifosfolipidio (ou algo parecido). Em linhas gerais, o corpo esta se atacando - nao os nervos, que é o caso da esclerose, mas os vasos. Assim, o que eu tive provavelmente foi um microderrame.

O tratamento é com imunosupressores e anticoagulantes. Os imunosupressores tambem podem ser tirados pelo Estado, mas os primeiros começo comprando - uns 150,00 cada, devo precisar de 1 ou 2 antes de ter a liberação do estado. Felizmente tenho como trabalhar para pagar.

Algumas restrições na alimentação, evitar algumas atividades como lutas marciais, futebol, esse tipo de coisa, porque a tendencia é que qualquer sangramento demore mais para se fechar. Exames de sangue 1x por semana agora, depois diminuido até ficar 1x por mes.

Tudo isso até eu finalmente ir para aquele baile de formatura que não tem fim.

As sequelas que ficaram (que foram poucas, mas existem) provavelmente não vao sumir - existe uma chance minuscula de que o remedio novo volte um pouco mais, mas ele disse para nem confiar nisso.

Aos poucos vou tomando consciencia disso - é difícil admitir que não sou mais uma pessoa perfeitamente saudável, que pode fazer o que bem entende. Toda coisa que nos faz ter consciencia da nossa mortalidade e fragilidade é difícil, imagino.

Por algum motivo ainda não contei para ninguem - voce é a unica que sabe. Em casa preferi dizer que o medico pediu mais exames, que PROVAVELMENTE é a sindrome, etc etc. Sei lá, talvez alguma forma de negação ou coisa do tipo. Ainda é estranho.

mudando de assunto, ontem fui visitar meu irmão. O lugar lá parece um presidio - um presidio de segurança minima, mas ainda assim um presidio. Choramos todos, ele disse que aprendeu, que esta fazendo a parte dele para melhorar, que quer sair o mais cedo possivel, que o susto foi tao grande que agora ele da valor à casa que tinha, à comida, à familia, esse tipo de coisa. Eu falei que queria muito acreditar nele, mas não podia, porque ele ja mentiu muito. Que a gente o ama, mas que chegamos no nosso limite. Então, que ele fizesse a parte dele para a gente poder acreditar de novo, não em promessas, mas em ações.

Imagino o quanto ele tá sofrendo. O tipo de gente que tem lá é de ex presidiario, morador de rua, etc. mas, como falei pra ele, a gente tambem sofreu muito quando ele tava aqui, fazendo o que fazia. Então, que ele aproveite para recomeçar uma nova vida.

De qualquer forma, foi horrível ver meu irmão lá. Ontem e hoje eu me pegava pensando coisas... como por exemplo, quando vou no banheiro - limpo, sossegado, sem hora pra sair, ficava imaginando ele lá, naquele lugar. A questão aqui não é "merece", ou "não merece" estar lá; a questão é "precisa" estar lá, porque ou era um lugar daqueles, ou uma prisaõ de verdade, onde logo ele ia parar por roubo pra pagar traficante ou coisa pior.

Ah Lux, essa semana está sendo muito, muito comprida.

mudando de assunto de novo, o meu blog nao aceita mais a minha senha :P Vou ter que fazer outro. Assim que tiver paciencia pra tanto, te aviso.

Fica com Deus.

Kai"
Hoje fui chamado de incompetente pela sócia do escritório. Assim, com todas as letras. Com ameaça expressa de ir pra rua. E o pior é que ela está coberta de razão.

Tenho trabalhado 11, 12 horas por dia. Almoço normalmente uma sopa pronta no escritório. Não acesso e-mail pessoal, não passo o dia na internet - apenas 10 ou 15 minutos vendo os últimos julgamentos e leis novas que saíram.

O máximo que me permito é ouvir música, porque ela cobre as conversas e me deixe trabalhar melhor.

Mesmo assim, ela tem razão. Trabalho muito, mas não serve. Tenho momentos maravilhosos, em que escrevo tão bem que, dias depois, nem acredito que eu mesmo escrevi aquilo. Mas, mesmo assim, meu trabalho é ruim.

Deus, como dói ser chamado de incompetente e não ter uma palavra para responder! E não tem nada a ver com a fase atual da minha vida; é o meu jeito, puro e simples.

Até hoje lembro de umas das primeiras postagens do meu primeiro blog - era justamente sobre isso que eu falava, do quando eu invejava as pessoas que conseguiam fazer com competência qualquer coisa - tipo o michael schumaker, que a primeira vez que pegou uma bola de futebol num jogo de artistas se mostrou tão bom quanto qualquer jogador por aí. Conheço várias pessoas assim, e eu não estou entre elas.

Uma vez, uma advogada do escritorio onde eu trabalhava como estagiária veio toda orgulhosa e disse: "o dr. fulano disse que eu era de uma eficiência irritante!" Cara, o que eu não daria para ouvir uma coisa dessas! Mas o que eu ouço é "desculpe ser tão franca, mas isso não tem outro nome a não ser incompetência".

A verdade é que eu queria ser bom em alguma coisa. Não me importaria de não ter vida social se fosse um bom profissional, por exemplo - aquele nerd de caricatura que não tem amigos mas monta um acelerador de partículas no quintal. Só que eu não sou uma coisa nem outra - não passo de um incompetente certificado, agora. E isso dói.
Hoje fui a uma audiência e uma estagiária foi como representante da empresa. Depois da audiência tive que fazer algumas coisas no forum, então ela foi junto. Ficamos conversando, eu perguntando o que ela tinha achado, o que acha que vai dar o processo, os motivos jurídicos pelos quais uma ou outra parte tem razão, esse tipo de coisa.

Foi muito bom perceber alguém prestando atenção no que eu digo. Eu via que aquilo valia por uma aula e ela realmente estava interessada.

Faz tanto tempo que falo sozinho, ou que não falo! Ou então, quando prestam atenção é da forma que a gente presta atenção no que o chefe diz: temos que prestar atenção porque são ordens, porque eu corrijo os erros e dou orientações nos processos. Mas ali não, era diferente - ela me ouvia porque estava gostando de aprender.

Claro, não sei nem se é verdade, se não passou tudo de impressão minha - já que tenho a enorme tendência de ver o que quero. Mas acredito que ela gostou, ou assim me pareceu.

Mas aí voltei para o escritório, e tudo voltou ao normal.
Tem um estagiário lá do escritório que causou a maior briga porque primeiro ficou com uma advogada (que recém havia terminado o noivado, ou terminou o noivado por causa dele, não entendi direito) e depois trocou-a por uma estagiária. Foi coisa de uma não olhar mais na cara da outra, de quase pedirem a conta, essas coisas.

Claro que fiquei morrendo de inveja dele.

A advogada é linda, inteligente, gente boa. A estagiária é bonita, simpática, carinhosa. Ele, tem a minha idade e está longe de ser um deus grego - mas é um cara bem legal e muito gente boa, embora não seja "a ferramenta mais afiada do paiol".

Ele estava contando do dia em que descobriram lá no escritório. "A dra. tinha ido lá em casa e por volta da meia-noite a gente foi num supermercado 24hs comprar sorvete, quando encontramos o cara que faz a manutenção dos computadores, que é super amigo da dona do escritório..."

Meia-noite, juntos fazendo sexo, depois sair junto para comprar sorvete. Mal consigo conceber uma coisa dessas. É o tipo de coisa da qual sinto falta.

Tá, eu sei que comecei falando uma coisa e terminei com outra. Mas a minha cabeça está assim.
Por alguma razão, o blogger não aceita mais minha senha antiga - e meu blog, de quase cinco anos (tudo isso, será) foi pelo ralo.

O lado bom é que o blogspot é mais fácil de usar, roda melhor no firefox e é fácil de colocar um feed rss - não que vá servir para alguma coisa.

Enfim, bem-vindo à casa nova - porque eu ainda não posso parar de escrever.