"estava pensando numa série de coisas hoje - certamente se comentasse com alguém, diriam "como você está filosófico hoje", sendo que isso geralmente é dito de forma depreciativa. Mas o termo é justamente esse, filosófico. Estava pensando no que você havia dito de melancolia produtiva, e pensando também na minha própria melancolia, e isso me conduziu a "ser feliz" - e no conceito de "ser feliz" de epicuro.
Não sou feliz hoje, isso é fato. Tenho momentos de felicidade, o que não corresponde a ser feliz, já que a gente pode ser feliz sem estar feliz (quem está sempre feliz não passa de um bobo, no sentído clínico). Felicidade deve ser um estado, não um instante.
Enfrentando a coisa como um simples problema de lógica, pensei então o que falta para ser feliz; o que me faria feliz.
Bens materiais? Tenho uma casa para morar, o dinheiro não me sobra no fim do mês mas ao menos consigo comer, vestir, sair de vez em quando. Mais dinheiro não me faria mais feliz, no máximo me deixaria mais confortável. Não é isso.
Ser mais bonito / achar minha alma gêmea? Os dois têm o mesmo problema, que na verdade é o mesmo que os bens materiais. Não é lógico imaginar que a felicidade, que é direito de todo o ser humano, esteja vinculado ao tanto de gordura que possui em volta da cintura, à harmonia entre os traços físicos ou á presença de outra pessoa. Existem pessoas feias que são felizes e vice-versa. Ter alguém talvez seja um catalisador para encontrar a felicidade, como se vê; só não faz sentido achar que a felicidade dependa disso. Um monge celibatário pode ser feliz, sem sombra de dúvidas. Atrelar a felicidade a algo externo soa incorreto.
A única resposta coerente parece ser que "a felicidade está dentro de você". Soa auto-ajuda, ou frase de guerra nas estrelas (se fosse "a felicidade dentro de você está", como diria o Mestre Yoda), mas não consigo ver outra alternativa.
Então por que não somos felizes? Por que eu não sou feliz? Não pode ser complicado e, ao mesmo tempo, não parece simples. Tenho o que preciso (o suficiente para sobreviver) e o que não tenho não é indispensável. Por que sinto esse aperto aqui dentro? Por que sinto que falta algo, quando algo não poderia faltar - se a felicidade não depende de nada?
A arte ajuda a aplacar isso um pouco. Não sei desenhar, pintar ou projetar, embora saiba reconhecer algo assim. Acho que meu sentido artístico é mais visual, de saber apreciar uma fotografia, um filme ou um ambiente harmônico, e textual. O que você tem com a sua loja eu tenho com cada processo que faço ou, melhor ainda, com cada texto que escrevo / leio, onde saboreio as palavras, o som, o conteúdo, a construção de uma frase onde uma palavra pode ter mais de um sentido, o equilíbrio entre cada uma delas. Como eu já disse uma vez, como Sherazade, contar histórias me faz manter a morte longe; traz um brilho, mesmo que fugaz, a isso tudo. Mas ainda são instantes, não estados. Será que a arte de ser feliz é simplesmente "carpe diem"?
Você parece feliz dentro da sua melancolia, e acho que é por isso que estou mandando este e-mail, mesmo que no fundo não me pareça ser nada que possa ser ensinado ou aprendido.
"Palavras, palavras." Quanto mais eu penso que sei, menos eu sei."
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